27 agosto 2013

DEMOCRACIA ATÉ NA MORTE

 Acima é um jornal francês e abaixo um britânico, ambos reagindo à notícia da morte de Estaline em Março de 1953. As posições expressas não podem ser mais antagónicas: aos encómios laudatórios, provavelmente excessivos, espalhados por toda a primeira página do primeiro (é uma edição especial!) contrapõe-se a severidade das críticas do artigo do segundo, dirigidas (Cassandra é o pseudónimo do jornalista William Connor), mais do que ao falecido, àqueles que enviaram (Churchill, Attlee, Eisenhower) as protocolares mensagens de pêsames na ocasião. Não estarei a forçar a nota se vir no episódio uma analogia – embora a uma escala substancialmente inferior –­ com a controvérsia que acompanhou os comentários à morte recente de António Borges. Porque se Borges foi um académico controverso mas brilhante, Estaline foi um estadista ainda mais controverso mas ainda mais brilhante. Contudo, porque há sessenta anos de permeio suponho que será gratuito perguntarmo-nos se quem agora se indignou com a crueldade das críticas ao defunto o faria nos mesmos moldes e com os mesmos fundamentos no exemplo do passado ou se quem agora criticou desapiedadamente o falecido aceitaria ouvir sem ripostar críticas de igual virulência das suas só que dirigidas a alguém que lhe merecia simpatia. Mas o que a Vida me tem ensinado é que os Princípios de Groucho Marx (que originalmente tomei por laracha), se revelam mais regularmente do que pensara, a explicação para o comportamento político das pessoas.

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