16 agosto 2013

É FAZER AS CONTAS, COMO DIZIA O GUTERRES…


Será fundamental vincar previamente quanto não simpatizo com aquilo que Isabel dos Santos representa, quanto não gosto do pai dela, quanto não acredito em coincidências que fazem da filha de um presidente a pessoa mais rica de um país a que o seu pai preside. Porém, o artigo que a Forbes publica a respeito de Isabel dos Santos que em Portugal tanto interesse tem despertado, parece-me demasiadamente enviesado para que não valha a pena escrutiná-lo. Os números mais significativos do artigo, os que servem para fazer as contas, até nem são os respeitantes à fortuna de Isabel dos Santos (que ali aparece avaliada em 3 mil milhões de dólares) mas os que aparecem no parágrafo do fim da primeira página (14º), quando se refere aos 32 mil milhões respeitantes às receitas do petróleo que, segundo o FMI, desapareceram dos registos entre 2007 e 2010, a uma média portanto, de 8 mil milhões de dólares desviados por ano. Parece tornar-se patente que o problema da conduta da oligarquia angolana e das consequentes assimetrias sociais em Angola não se esgotará em Isabel dos Santos, embora o seu caso valha certamente pelo exemplo.
Mas não deixa de ser estranho que, reconhecendo-se que a fonte primária da prosperidade angolana sejam as receitas do petróleo (que representam 98,3% das suas exportações), ao longo do artigo as conexões dos negócios que são reveladas se centrem sempre em parcerias europeias, sobretudo portuguesas, quando a esmagadora maioria das exportações do petróleo angolano não se destinam nem a Portugal nem à Europa: quase metade vai para a China (46,2%), seguem-se os Estados Unidos (13,8%), a Índia (11,1%) e Taiwan (6,9%). Os dólares que corromperão Angola virão principalmente (78%) daí e apetece perguntar se será apenas Isabel dos Santos que não tem conexões com empresas e empresários desses países, ou se com elas os negócios, por não a envolverem, serão muito mais transparentes… Mas não é apenas uma questão da Forbes distorcer e escamotear dados. É também uma questão de tratamento, veja-se a forma como a angolana foi tratada em comparação com a espanhola Rosalía Mera, uma outra fortuna recente (Zara) que valia o dobro (6,1 mil milhões de dólares) de Isabel dos Santos mas cuja fortuna, na hora da morte, parece ter-se tornado impoluta

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